Naquela segunda-feira, Julio se levantou normalmente. Dormira especialmente bem, ao saber (através de esforço próprio) que no dia anterior que mais uma vez sua crônica dominical havia sido elogiada por inúmeros leitores. Logo, depois de escovar os dentes, decidiu que iria tomar um café formidável numa padaria de qualidade.
Aquele homem era um escritor – um freelancer – cuja escrita fez tanto sucesso que foi convidado pelo jornal à repeti-la. Com o tempo, aquela acabou virando a coluna fixa dele – mesmo sem criar nenhum vínculo especial com aquele folhetim.
Suas crônicas eram publicadas todos os domingos e ele já até ganhara certa fama por ser tão habilidoso ao manusear as palavras com tanto cuidado e descrever tão bem a essência humana. Era melhor do que alguns nomes consagrados diziam.
Lá na padaria, Julio tomou o café da manhã e foi simpático com todos. Depois saiu e sentou-se num daqueles bancos de madeira, numa pracinha por perto. Lá uma mulher de uns cinqüenta anos lia o jornal de segunda-feira – o mesmo em que ele publicava suas crônicas dominicais.
Numa oportunidade ele tentou puxar conversa.
- Notei que você tá lendo esse jornal... Você gosta da coluna do Julio Douglas que sai aos domingos?
- Nossa, eu adorava...
- Adorava?
- É... Você não sabe ainda? – ele balançou a cabeça – O Julio, coitado, morreu afogado.
A sensação de ficar ciente da própria morte num momento de vivacidade é algo para poucos. Era o final da década de 70, e realmente, muitos boatos corriam sobre falsas mortes de artistas famosos – como Hebe ou Chico Anysio. Sentindo-se abalado por um segundo, Julio logo superou isso levando o fato na brincadeira.
Ninguém sabia que ele era o “Julio Douglas”. Falou com outras pessoas (com quem conversava sobre a crônica dominical casualmente) e ouviu:
- Ah, eu soube, ele foi atropelado, né?
- Pegar pneumonia com o tempo tão ensolarado... Uma tragédia.
- Teve um enfarte. E dizem que ele só tinha 20 anos.
- O Julio morreu? Que pena... A última noticia que eu tive dele, ele ainda respirava com ajuda de aparelhos.
- Ele já estava velho mesmo. Morreu dormindo.
Foram tantas as respostas que Julio que depois de rir, ele começou a se preocupar. Decidiu pôr sua genialidade em ação. Escreveu uma bela crônica sobre os boatos que o levaram à "morte".
Mas na sexta-feira quando foi integrar os papéis para o editor revisar e publicar no domingo. Teve uma surpresa: foi recusado. Motivo: ele tinha morrido.
- Aliás, Julio, tem certeza que você tá vivo?
Depois de bater boca com o editor – que era a única pessoa que o conhecia de fato – conseguiu convencê-lo.
A matéria lá. A repercussão daqueles que o admiravam foi: primeiro surpresa, mas depois... Bem, depois eles perceberam que estavam sendo enganados. Existiam os boatos? Claro. Mas Julio Douglas morreu, aquela escrita não era como a dele.
Em desespero, o escritor passou a semana sem dormir e redigiu a melhor crônica de sua vida. Só isso já era recompensador.
Domingo sua coluna saiu. E sentado naquele banco de madeira na pracinha, ele perguntou para a mulher de uns cinqüenta anos.
- E aí, viu que aquilo sobre o Julio era só boato?
- Que boato que nada, eles substituíram o Julio por um outro muito menos talentoso, só para que a gente continue lendo... Mas o povo não é burro, não senhor.
Sem falar nada e com o coração tamborilando forte – ele notou: estava mais morto do que nunca. Saiu de lá louco de raiva. Ficou a semana inteira trancafiado no seu minúsculo apartamento. Na sexta, estava completamente branco – não comia direito desde sua “morte”.
O editor disse que não publicaria mais a coluna dele. As pessoas estavam furiosas com aquela suposta brincadeira de mau gosto. Julio ficou em silêncio e decidiu somente ir embora, não precisava se sentir mais humilhado do que estava.
- Ei, cara, é melhor você se cuidar, tá parecendo um fantasma, pálido desse jeito.
E então, três semanas após sua morte, Julio Douglas entrou no seu apartamentinho e parou de existir.
Aquele homem era um escritor – um freelancer – cuja escrita fez tanto sucesso que foi convidado pelo jornal à repeti-la. Com o tempo, aquela acabou virando a coluna fixa dele – mesmo sem criar nenhum vínculo especial com aquele folhetim.
Suas crônicas eram publicadas todos os domingos e ele já até ganhara certa fama por ser tão habilidoso ao manusear as palavras com tanto cuidado e descrever tão bem a essência humana. Era melhor do que alguns nomes consagrados diziam.
Lá na padaria, Julio tomou o café da manhã e foi simpático com todos. Depois saiu e sentou-se num daqueles bancos de madeira, numa pracinha por perto. Lá uma mulher de uns cinqüenta anos lia o jornal de segunda-feira – o mesmo em que ele publicava suas crônicas dominicais.
Numa oportunidade ele tentou puxar conversa.
- Notei que você tá lendo esse jornal... Você gosta da coluna do Julio Douglas que sai aos domingos?
- Nossa, eu adorava...
- Adorava?
- É... Você não sabe ainda? – ele balançou a cabeça – O Julio, coitado, morreu afogado.
A sensação de ficar ciente da própria morte num momento de vivacidade é algo para poucos. Era o final da década de 70, e realmente, muitos boatos corriam sobre falsas mortes de artistas famosos – como Hebe ou Chico Anysio. Sentindo-se abalado por um segundo, Julio logo superou isso levando o fato na brincadeira.
Ninguém sabia que ele era o “Julio Douglas”. Falou com outras pessoas (com quem conversava sobre a crônica dominical casualmente) e ouviu:
- Ah, eu soube, ele foi atropelado, né?
- Pegar pneumonia com o tempo tão ensolarado... Uma tragédia.
- Teve um enfarte. E dizem que ele só tinha 20 anos.
- O Julio morreu? Que pena... A última noticia que eu tive dele, ele ainda respirava com ajuda de aparelhos.
- Ele já estava velho mesmo. Morreu dormindo.
Foram tantas as respostas que Julio que depois de rir, ele começou a se preocupar. Decidiu pôr sua genialidade em ação. Escreveu uma bela crônica sobre os boatos que o levaram à "morte".
Mas na sexta-feira quando foi integrar os papéis para o editor revisar e publicar no domingo. Teve uma surpresa: foi recusado. Motivo: ele tinha morrido.
- Aliás, Julio, tem certeza que você tá vivo?
Depois de bater boca com o editor – que era a única pessoa que o conhecia de fato – conseguiu convencê-lo.
A matéria lá. A repercussão daqueles que o admiravam foi: primeiro surpresa, mas depois... Bem, depois eles perceberam que estavam sendo enganados. Existiam os boatos? Claro. Mas Julio Douglas morreu, aquela escrita não era como a dele.
Em desespero, o escritor passou a semana sem dormir e redigiu a melhor crônica de sua vida. Só isso já era recompensador.
Domingo sua coluna saiu. E sentado naquele banco de madeira na pracinha, ele perguntou para a mulher de uns cinqüenta anos.
- E aí, viu que aquilo sobre o Julio era só boato?
- Que boato que nada, eles substituíram o Julio por um outro muito menos talentoso, só para que a gente continue lendo... Mas o povo não é burro, não senhor.
Sem falar nada e com o coração tamborilando forte – ele notou: estava mais morto do que nunca. Saiu de lá louco de raiva. Ficou a semana inteira trancafiado no seu minúsculo apartamento. Na sexta, estava completamente branco – não comia direito desde sua “morte”.
O editor disse que não publicaria mais a coluna dele. As pessoas estavam furiosas com aquela suposta brincadeira de mau gosto. Julio ficou em silêncio e decidiu somente ir embora, não precisava se sentir mais humilhado do que estava.
- Ei, cara, é melhor você se cuidar, tá parecendo um fantasma, pálido desse jeito.
E então, três semanas após sua morte, Julio Douglas entrou no seu apartamentinho e parou de existir.
obs: essa crônica é uma homenagem ao Chico Anysio.
obs²: Vale lembrar que esse blog aqui, foi o culpado de tudo. (Sim, isso é um agradecimento.)
Que sacanagem!!! Coitado do JD!
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