26.5.09

Verbo #02 – Conhecer

(Essa é uma longa história, contada em partes, que começou AQUI)

Conhecer

   “Tudo bem aí embaixo, amante das borboletas?” ela perguntou. “Acho que sim... Eu tô começando a me acostumar com quedas.” Ela fez cara de pensativa, olhou bem para mim no chão enquanto eu amarrava meus cadarços direito.
- Ah! Desculpa! Você é o cara que caiu do segundo andar!
   Tinha um mini-bandaid na minha testa, quase no meu cabelo. Eu expliquei que mais cedo, tinha caído em cima do tapete da entrada do prédio, então o impacto não tinha sido tão doloroso (exceto pela minha cabeça que bateu no chão).
   Eu levantei. “Agora, é a hora em que a gente se apresenta.” ela falou. E, lutando contra minha timidez, eu ofereci uma carona à ela. A resposta foi um sim com a cabeça. E enquanto andávamos até o carro, ela disse para mim um de seus lemas:
- Nunca deixe um estranho amarrar seus sapatos.

   Nós fomos de carro até um pequeno prédio de três andares. Mas não em silêncio. Eu descobri que ela tocava guitarra. Seu nome. Sua idade. Seu amor por borboletas. Que ela tinha uma banda. Que ela gostava de Astrud Gilberto e Radiohead.
   A única coisa que ela me perguntou foi o meu nome. Eu não disse à ela o meu nome, eu nunca digo meu nome pra ninguém.
- Eu nunca digo meu nome pra ninguém. Mas você pode me chamar de... Davi, que tal esse nome?
- É um prazer te conhecer... Davi.
   Eu parei o carro. Ela desceu e perguntou se eu não gostaria de entrar para ver sua guitarra. Quando eu me dei conta nós já estávamos lá dentro do prédio. E, o que eu achei estranho, ela vivia no subsolo.
   A sala era mais ou menos grande e tinha uma bateria, um teclado e um microfone (e mais nenhum espaço). “Espera um segundo.”. Ela foi pegar a guitarra. Eu sentei em frente ao teclado. E fui tocando umas notas. Fazia séculos que eu não encostava num teclado.

   Quando ela voltou, eu estava tocando uma música. Uma valsa. Ela parecia estar gostando. E disse “Nossa, que música linda.”. Então, eu comecei a ficar nervoso e errei uma nota ou duas e logo parei tocar e fiquei estalando meus dedos no compasso da música. Eu me levantei do banco e fui para perto dela.
   Era o momento em que eu devia beijá-la, eu sei. Eu percebi isso. Mas vocês têm que entender que até aquele dia, minha maior conquista tinha sido zerar Battletoads no nível mais difícil (e ficar decepcionado com o final idiota.). Eu falei como um verdadeiro nerd: “Essa música se chama Waltz for Debby... Toquei ela especialmente por que você se chama Debora”.
- Pode me chamar de Debby. – ela sorriu com os braços em volta do meu pescoço.
   Eu ia falar mais sobre a música, mas ela percebeu que eu estava sem jeito e me tascou um beijo. Não foi o melhor beijo em si, mas foi um ótimo sentimento.
- Debby... Nunca deixe um estranho tocar Waltz for Debby para você quando estiver sozinha com ele. – eu disse.
- O meu lema sobre cadarços é melhor.

   As coisas estavam indo bem. Bem demais.
   Foi aí que meu celular tocou.

2 comentários:

  1. Oh, que lindinho. Você está ficando ainda mais romântico...

    ResponderExcluir
  2. Que brisa cara.. muito bom!

    ResponderExcluir