19.5.09

Verbo #00 - Cair

(Essa é uma longa história, contada em partes, que começa AQUI)

Cair

“Segura a minha mão...!”

   Uma caneca branca de café-com-leite. Uma escova de dente verde gasta. Um lençol macio e amarelo. Um boné vermelho. Uma mesa de madeira escurecida. Um grampeador. O cachorro gigante todo cheio de manchas pretas. E o clarão de luz.
   O cheiro de todo àquele tempo é um só. A casa, o cão e a árvore. Todos cheiram a passado: uma mistura de café, menta, xixi, madeira e grama. Pelo menos pra mim. Acho que é algo difícil de descrever, cada pessoa tem o(s) seu(s) cheiro(s) da infância – e nunca é algo fácilmente tangível.

“... Não!”

   O que importava era o calor que ultrapassava todos os galhos daquela árvore tão densa. Eu costmuva deitar ali e não fazer nada. Pensar na vida. Hoje eu tento lembrar e realmente não consigo. O que eu pensava quando tinha 8 anos de idade? O que pensa um garoto de 8 anos de idade? Não sei e aposto que você também não.
Essa grama tá fazendo cosquinha. Heh. Tá tão quente... O clarão de luz... Quanto tempo eu consigo ficar olhando para o sol?

“Acorda, acorda.”

   Não era a minha mãe.
   E pensando bem... Eu não me lembro qual era a cor dos olhos da mulher que me carregou na barriga por 9 meses. Nem da minha irmã, embora eu lembre bem de seus oculos vermelhos tão cafonas. Da minha mãe... Só sou capaz de visualizar mentalmente as mãos – ela era comprida e tinha calos, agora eu não consigo recordar direito o porquê dos calos.

   Nesse momento, diante de mim, grandes olhos perplexos.
- Tudo bem?
- Acho que sim... Mas afinal o que foi que aconteceu?
   Eu tinha acabado de ter um sonho tão... tangível, daqueles que você não quer acordar. E enquanto ela me falava que eu tinha “me jogado” do segundo andar da empresa, eu percebi que um pouco de sangue estava escorrendo da minha sobrancelha.

   Foi a primeira vez, mas nem me toquei disso.
   Eu estava sonhando um bom sonho.

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