29.3.09

Almoço

 

   Este tipo de cena já havia acontecido muitas vezes de madrugada, no quintal de Ofélia. Naquele dez de outubro foi a primeira vez em que se sucedeu ao meio-dia, em outro lugar.
   Os motivos eram simples: fome e vontade. O dia era um prato cheio. A rua toda engarrafada por causa de um caminhão, um inútil guarda de trânsito, buzinas e gritos: uma garrafa de testosterona. O automóvel causador do congestionamento descarregava caixas de cerveja para o bar. O local estava cheio de homens: outra garrafa de testosterona.
   Do modo mais barulhento, sem fazer um pio, Ofélia - uma linda mulata - e sua cadela passavam. As cabeças masculinas convergiam em direção à bunda dela, claro.
   Ninguém sabia que ambas eram, na verdade, sinistras. Dos carros vinham assovios, do bar gritos e uivos. As feras só precisavam de uma presa, alguém que mordesse a isca.
   Surpreendentemente, quem o fez foi o guarda:
- Ei senhorita, cuidado com esses bêbados – e cometeu o erro de acrescentar – Se precisar de proteção, Guarda Osmar é a solução – então, riu.
   Era tudo que a detentora do belo bumbum e da cadela faminta queria ouvir:
- Princesa! Almoço! Pega!
   A cena foi realmente feia, o grito de dor ecoa até hoje no ouvido daqueles homens que estavam presentes quando vêem uma cadelinha correndo. O congestionamento era agora silencioso – uma mulher berrou “É assim que se faz!” – e a cadela Princesa estava alimentada. Infelizmente para o Guarda Osmar, ele não seria a solução de ninguém tão cedo.
   Ofélia seguiu seu passeio em paz, ainda mais satisfeita que sua cadela.

[24/09/08]

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